segunda-feira, 24 de outubro de 2016

II - 22:37

notícias do mundo de cá:
o sol está oficialmente em
                                          Escorpião
e tenho essa uma música
vinteequatro horas na cabeça:
a libido está em toda a libido está em tudo

socorro


, f

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

I - 03:13

(a) o sol em libra ainda
(b) a lua em câncer
(ou seja, c) tem dias que não sei pensar outra coisa

, f

Cor-respondência

Remeta-me os dedos
em vez de cartas de amor
que nunca escreves
que nunca recebo.
Passeiam em mim estas tardes
que parecem repetir
o amor bem feito
que voce tinha mania de fazer comigo.
Não sei amigo
se era o seu jeito
ou de propósito
mas era bom, sempre bom
e assanhava as tardes.
Refaça o verso
que mantinha sempre tesa
a minha rima
firme
confirme
o ardor dessas jorradas
de versos que nos bolinaram os dois
a dois.
Pense em mim
e me visite no correio
de pombos onde a gente se confunde
Repito:
Se meta na minha vida
outra vez meta
Remeta.

Elisa Lucinda

quinta-feira, 20 de outubro de 2016



except in one you're fulfilled
at the end of the day 

Martin Gore
Só depois de ler Barthes é que Camila
ficou a saber que o dedo da
masturbação é o médio até aí tinha
usado sempre o indicador
experimentou também o polegar e
viu que todos serviam meu menino
seu vizinho pai de todos fura bolos
mata piolhos depois de perder a
virgindade experimentou com um
tubo de Cecresina metido num Durex
Gossamer

também servia mas isto nada
tem a ver com o amor tem a
pintar e dá menos satisfação a
menos que Camila se lembre de
Jénia e da penetração então
usa só os dedos e serve para
adormecer



quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Febre 40º

Pura? Como assim?
As línguas do inferno
São sujas, sujas como as três

Línguas do sujo e gordo Cérbero
Que arfa ao portão. Incapaz
De lamber e limpar

O membro em febre, o pecado, o pecado.
A chama chora.
O cheiro inconfundível

De um toco de vela!
Amor, amor, a fumaça escapa de mim
Como a écharpe de Isadora, e temo

Que uma das pontas ancore-se na roda.
Uma fumaça amarela e lenta assim
faz de si seu elemento. Não vai subir,

Mas envolver o globo
Sufocando o velho e o oprimido,
O frágil

Bebê em seu berço,
Orquídea pálida
Suspensa em seu jardim suspenso no ar,

Leopardo diabólico!
A radiação o embarque
E o mata em uma hora.

Engordurando os corpos dos adúlteros
Como as cinzas de Hiroshima que os devora.
O pecado. O pecado.

Meu bem, passei a noite
Me virando, indo e vindo, indo e vindo,
Os lençóis me oprimindo como o beijo de um devasso.

Três dias. Três noites.
Limonada, canja
Aguarda, água me deixe enjoada.

Sou pura demais pra você ou pra qualquer um.
Seu corpo
Me ofende como o mundo ofende Deus. Sou uma lanterna –

Minha cabeça uma lua
De papel japonês, minha pele folheada a ouro
Infinitamente delicada e infinitamente cara.

Meu calor não te assusta. Nem minha luz.
Sou uma camélia imensa
Que oscila e jorra e brilha, gozo a gozo.

Acho que estou chegando,
Acho que posso levantar –
Contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu

Sou uma virgem pura
De acetileno
Cercada de rosas,

De beijos, de querubins,
Ou do que sejam essas coisas róseas.
Não você, nem ele,

Não ele, nem ele
(Eu me dissolvo toda, anágua de puta velha) –
Ao Paraíso.

Sylvia Plath


SENHORAS E SENHORES, bem vindos ao anágua de puta velha.